Entrevista Exclusiva: desafios da prefeita mais jovem de Olinda e sua gestão
A Coluna João Alberto terá entrevistas semanais com personalidades de destaque da sociedade pernambucana todas as segundas-feiras
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Boas histórias servem para motivar e incentivar conquistas. Por isso, a partir desta segunda-feira (17), a Coluna João Alberto trará todas as segundas uma entrevista com personalidades importantes da sociedade pernambucana.
A primeira entrevistada é a prefeita mais jovem de Olinda, Mirella Almeida, que está atualmente na gestão municipal, aos 30 anos. Apesar da juventude, já tem enorme experiência na vida pública e política, tendo ocupado vários cargos importantes.
Na primeira das entrevistas que a coluna vai fazer com figuras do nosso estado, conta como é enfrentar o grande desafio e como se divide como administradora, mãe, esposa e confessa que pratica boxe na academia para se desestressar.
1. Como se interessou pela política?
Em 2014 eu trabalhava na área financeira. Já tinha ajudado na campanha de vereador do professor Lupércio e depois de dois anos eu de fato participei de forma mais contundente na campanha dele de deputado estadual. E eu adorei aquilo.
Ele ganhou e eu fui trabalhar com ele na Alepe, coordenava todo o gabinete. Dois anos depois a gente fez a campanha dele para a prefeitura de Olinda. Ele ganhou novamente e me convidou para ser secretária do governo, que é uma escola, você gerencia as ações de todas as outras secretarias.
Então, obrigatoriamente, você sabe um pouco de tudo, porque você tem que estar nesse acompanhamento diário. Na reeleição, ele me chamou para assumir a secretaria da Fazenda.
2. Como foi a atuação na Secretaria de Desenvolvimento Econômico?
Tinha a missão de gerar empregos e renda dentro da cidade, além de fomentar o empreendedorismo. Aos 15 anos eu vendi trufa para ajudar a pagar os estudos e está no sangue a vontade de fazer com que as pessoas entendam que o empreendedorismo é muito mais do que uma tábua de salvação, é um transformador de vida. Foi a partir daí que eu comecei a me apaixonar pelo lado do fazer.
3. Como surgiu a candidatura a prefeita?
Recebi o convite do prefeito Professor Lupércio para que eu fosse candidata a prefeita de Olinda. Eu não tinha pretensão, na verdade. Começamos a conversar, então eu me dividi entre o trabalho da prefeitura e estar na rua me apresentando às pessoas.
E esse negócio da política toma conta de um sentimento dentro da gente que é imensurável. E, durante essa trajetória, eu digo com toda a convicção que a política precisa parar de ser sobre política. Precisa ser sobre pessoas.
4. Qual time de coração?
Sou torcedora do Náutico, raramente vou a campo, mas discuto muito com Chiquinho, o vice-prefeito, que foi jogador do Sport.
5. Para você, o machismo existe na política?
A gente ainda tem um caminho para percorrer e os homens têm que ser nossos aliados. Mas eu senti logo quando eu entrei aqui, porque assumi a secretaria de governo com 21 anos.
Então era uma mulher jovem comandando outras secretarias. Eu achava que não davam muito ouvidos à fala de uma mulher mais jovem.
6. Qual foi a importância da participação no fórum da ONU?
Eu tive uma certeza muito grande de que eu queria ser candidata quando eu fui para o fórum de discussão da ONU de igualdade de gênero, ODS5. O tanto de mulher que eu vi ali mulheres potentes falando sobre seus próprios contextos, compartilhando suas experiências.
Também fui a um evento com muitas meninas, jovens e crianças. E tinha uma criança que disse ‘tia, quando eu crescer, eu vou querer ser perfeita, igual a senhora'. A resposta mexeu comigo.
Eu preciso ser um espelho para uma sociedade que grita por políticas públicas eficientes, sobretudo mulheres. Então, muita coisa foi acontecendo e me trazendo essa certeza de onde eu queria estar. E aqui estou.
7. Quais principais preferências na música?
Gosto muito de Elis Regina, que sempre considerei uma das maiores intérpretes do Brasil. E adoro Gilberto Gil, especialmente por ele destacar a música nordestina.
8. A sensação de ser eleita prefeita de Olinda?
Hoje eu sinto que muita gente se espelha em mim. Aquela dificuldade que eu senti lá atrás quando eu assumi enquanto secretária, eu já não sinto mais hoje.
Acho que eu já tive tempo suficiente para mostrar minha competência e que eu gosto muito de trabalhar, que o fato de ser mulher não me diminui em nada, muito pelo contrário, mostra a minha força, a minha resistência, a minha resiliência de estar onde eu estou e do que eu quero buscar para as pessoas e para mais mulheres. Mas o fato de ser nova traz nas pessoas um olhar mais esperançoso.
9. Quais setores da cidade merecem um olhar mais atento?
Olinda tem inúmeros desafios. Tem orla, tem sítio histórico, tem base rural, 50% da população reside em área de morro. Então, é importante procurar soluções.
Por exemplo, na questão da orla, estamos buscando essa discussão metropolitana, trazendo para o âmbito do Estado, para que junto com a União consiga abarcar os municípios. Engorda de praia, enrocamento, não são obras baratas.
Os municípios não conseguem, não dispõem desse recurso.
10. Falta espaço para indústrias em Olinda?
Olinda hoje já é conhecida como Patrimônio Histórico Cultural da Humanidade, mas a gente também tem que ir em busca de mais oportunidades para as pessoas. Por ter essa dificuldade geográfica, a gente tem 43 km de extensão. É muita gente por quilômetro quadrado.
Nós somos a quinta cidade mais demográfica do Brasil, então não tem espaço para grandes indústrias. O que a gente pode fazer em relação a isso? Atrair empresas em outros setores, como tecnologia, potencializar nosso turismo, gerar emprego e renda para o povo daqui.
11. Seu restaurante preferido?
Esse é polêmico, pois minha cidade tem muitas e ótimas opções gastronômicas, mas gosto muito do restaurante de Cris, aqui do Gabinete. Adoro feijoada, pirão, todas as comidas regionais. Sou boa de garfo.
12. Como está a preparação para o Carnaval?
Eu digo que quem assume a prefeitura de Olinda já entra na gestão trocando o pneu do carro e descendo a ladeira. As prévias começam em setembro e é muita coisa pra fazer.
Já estamos fazendo reuniões desde o ano passado, fechando com artistas locais, porque 90% do nosso carnaval, da nossa grade é de artista da terra, artista pernambucano, sobretudo de Olinda para retomar a cultura popular.
Mostrando que os palcos são importantes, mas que quem faz o carnaval é o nosso sobe e desce de ladeira, é o nosso folião, nossos artistas que estão aqui junto com a gente, fazendo essa alegria que é o carnaval de Olinda.
13. Ações de turismo estão nos seus planos?
Sim, a gente está buscando outras parcerias, com trade turístico, com os fazedores de cultura da cidade para que a gente tenha essa movimentação anual com calendário de eventos.
Tivemos uma reunião com Dom Paulo Jackson, que é o arcebispo de Olinda e de Recife, para falar do turismo religioso e retomar festividades.
Além de potencializar o turismo seguro para a mulher, que é uma parceria com o “Instituto Livre de Assédio” para um protocolo de turismo seguro, porque estudos mostram que Olinda é uma das cidades que as mulheres gostam de viajar sozinhas.
14. Tem algum hobby?
Gosto muito de curtir minha família, de ler livros, escutar música e fazer boxe na academia para desestressar.
15. Alguma proposta de reestruturação do Cine Olinda?
É um grande desafio para a gente. O Cine Olinda tem uma obra que tem a participação do governo do Estado, do governo federal e do IPHAN.
Então a gente tem que estar falando a mesma língua para que a obra avance. Eu vou ter uma reunião de monitoramento sobre a atual situação do cine Olinda para que a gente retome isso aí.
É um sonho da população de Olinda.
16. O maior desafio de dividir o profissional com a maternidade?
A régua da mulher está sempre lá em cima. E a mulher mãe mais ainda. A gente tem uma demanda no dia a dia que 24 horas é pouco. Eu não tenho muito tempo livre.
Mas eu tento conciliar o meu principal papel: De ser mulher e mãe. Então eu faço questão de acordar antes do meu filho, levar ele na escola, buscá-lo.
Então, o tempo que eu consigo, eu tento ter qualidade com ele, para que ele não sinta nenhuma ausência. Ser mãe, mulher, esposa, gestora de uma cidade, não é nada fácil. É desafiador, mas eu amo um desafio.
17. Como se sente podendo inspirar outras mulheres na política?
Poderia dizer que isso é apenas uma grande responsabilidade, mas isso é uma responsabilidade que eu me sinto muito feliz em ter. Porque eu já me inspirei em muitas mulheres.
A minha mãe, é minha maior inspiração. E eu não romantizo toda a história da vida dela, porque sempre foi muito sofrida, mas eu vim nela numa força que eu não enxerguei em ninguém.
Na minha tia também. Mas eu sempre enxerguei em outras mulheres essa força que vem e que se arrasta como exemplo.
18. Algum momento que marcou durante essa caminhada?
O encontro com uma menininha dizendo pra mim que quer ser prefeita. Pra mim isso não tem preço. Ela se enxergou em mim, mesmo que ela não quisesse ser prefeita, que ela quisesse ser o que ela quisesse. Mas, que eu pudesse ser um bom exemplo.
Hoje ver mães que querem voltar a trabalhar, que não tem uma rede de apoio e eu poder ampliar as vagas de creche na cidade para que elas deixem as crianças e possam cuidar da sua vida, da sua saúde, trabalhar, estudar…
Eu não estou numa linha muito distante e eu sempre brinco com isso, quando alguém fala como se eu fosse celebridade, somos iguais. Vamos quebrar esse distanciamento que existe do político com o povo. As pessoas precisam se enxergar em você durante todos os dias de gestão.
Eu vim de uma comunidade, de um lugar que precisava de políticas públicas. Então se eu não fizer isso, eu estou no lugar errado.