A trajetória de Gleyce Fortaleza: destaque na dermatologia brasileira e exemplo de ética e superação
Nesta entrevista, a profissional destaca pontos importantes da sua carreira, iniciada nas salas da UFPE e chegando aos congressos internacionais
Pernambucana, médica, empresária, influenciadora, mãe e esposa, Gleyce Fortaleza construiu seu sucesso. Filha de pais com pouco estudo, a médica é um grande exemplo de resiliência em nossa sociedade. Comprometida com a ciência, segue uma dermatologia ética e transparente, além de usar as redes sociais para transmitir informações relevantes.
Em entrevista à nossa coluna, Gleyce compartilha detalhes de sua trajetória, que começou com muito esforço, decisões desafiadoras e superação de obstáculos em um cenário de julgamentos para quem escolhe caminhos ainda pouco explorados.
Como foi sua trajetória para ser uma das dermatologistas de mais prestígio a nível nacional?
Sou filha de pais com pouco estudo, mas sempre estudei em boas escolas. Não tenho nenhum médico na família, então assim que me formei na universidade federal de Pernambuco, iniciei residência de clínica geral e, logo em seguida, Dermatologia.
Após finalizar as duas formações, aluguei uma pequena sala de 20m2 junto com uma colega e começamos a atender. Muitas vezes eu não tinha nenhum paciente agendado, mas ficava no consultório caso alguém telefonasse e orientava nossa secretária a dizer que havia uma desistência de última hora e eu poderia atender de imediato.
Meus primeiros pacientes muitas vezes me procuravam em busca de doenças de pele e até para conseguirem pareceres de liberação para praticar natação. Mas eu sempre atendia todos com muita boa vontade e falava sobre os tratamentos estéticos disponíveis.
Na época, eu não tinha nenhum aparelho, alugava máquinas esporadicamente, tudo na mesma salinha de 20m2. Aos poucos fui construindo meus clientes e tomei coragem para partir para um espaço maior. Convenci minhas duas irmãs a virarem minhas sócias e me emprestarem dinheiro, e financiei um carro que eu tinha para arranjar minha parte. E assim nasceu a primeira Clínica Pele.
Como manter o comprometimento com a ética e naturalidade na dermatologia, em um cenário repleto de influencers divulgando excesso de produtos sem comprovação científica?
Eu sempre penso na longevidade das relações e das empresas. Então se você quer construir qualquer relacionamento ou negócio com longevidade, os pilares de ética e confiança jamais podem ser quebrados. Para construir uma cartela de pacientes fiéis é essencial ser transparente, honesto e apegado ao que é cientificamente comprovado e não ao que é moda.
Sempre falo que ganhamos o pacientes quando dizemos não: isso não vai ficar bom, você não precisa disso, isso vai ser arriscado para você, enfim, ser um Porto Seguro num mundo de excessos e procedimentos duvidosos.
Em que momento você percebeu que havia se tornado uma referência não apenas na performance dos procedimentos estéticos, mas na forma que mostra esse conteúdo nas redes sociais? Como foi esse processo?
Essa questão das redes sociais foi muito sofrida para mim no início. Praticamente não havia médicos nas redes e eu era mal vista pelos colegas. Apesar de super qualificada, formada pela UFPE, residências na UFPE, passei em primeiro lugar em dermatologia, especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, muitos cursos dentro e fora do país, ainda era tida como a “Médica blogueira”. Eu nem sei explicar porque não desisti das redes, sinceramente eu tinha uma coisa dentro de mim que dizia para eu continuar apesar de tudo e de todos.
Assim eu fiz, segui em frente, continuei me qualificando como médica mas também fiz vários cursos de marketing e hoje vejo o quanto valeu a pena. Tenho muito orgulho de ver vários colegas seguindo meu caminho e agradeço todo o reconhecimento que tenho hoje tanto dos meus pacientes como na comunidade médica.
Quais seus maiores desafios para conciliar a carreira de médica dermatologista, empresária e influencer, sendo mãe de dois filhos e esposa?
Eu até hoje não sei como equilibrar esses tais pratos. Mas uma coisa que me ajudou bastante foi aprender a dizer não. Antes eu achava que precisava estar em todos os eventos, todos os congressos, participar de tudo. Hoje minhas prioridades são minha família, minha saúde e meu trabalho.
Organizei minhas agendas para estar com meus filhos pelo menos 2x por semana e nos finais de semana, faço atividades físicas diariamente, tenho meus horários de fisioterapia, as agendas dedicadas a gravar conteúdo e os horários de atendimento. Tudo bem encaixado pra ver se não derrubo prato nenhum.
Qual conselho você daria para os médicos que ainda não possuem uma presença digital tão consolidada? Você sente que isso foi uma virada de chave na sua carreira?
Entrem hoje! É melhor o feito que o perfeito. Sejam autênticos, não se deixem influenciar por ninguém, postem verdadeiramente sobre o que acreditam e o que praticam no seu dia a dia. Falem de forma simples de forma que todos consigam entender, sirvam o seguidor de vocês com o máximo de informações que possam impactar positivamente em suas vidas, independente deles serem ou não pacientes seus.
Pensem como médicos: vocês trabalham servindo ao próximo. E assim construam a maior parte do seu conteúdo. Ocupem o lugar de voz que pertence a vocês, não deixem as redes serem dominadas pelos ignorantes!
Como você acha que o excesso de pessoas criando conteúdo sobre beleza - considerando que a maioria não possui formação para isso - afeta a autoestima das mulheres?
Eu acredito que o mundo até pode sair do prumo mas ele sempre volta para o eixo. Tive um período de extrema tristeza com as redes sociais, até reduzi muito minhas postagens por desgosto mesmo. Mas aí o mundo vai e capota! Olha que lindo está acontecendo agora: após uma era de harmonizações, exageros, complicações horríveis, as pessoas estão voltando a gostar de uma beleza mais natural, priorizando a saúde da pele, do corpo, da mente, muito conteúdo sobre bem estar, sono saudável, alimentação.
Eu mesma fui muito influenciada a cuidar melhor da minha saúde pelas redes. Os profissionais sérios estão se levantando contra os “falsos experts” e aí a luta está começando a ficar mais equilibrada.
Em que a dermatologia difere da medicina geral? Qual é sua peculiaridade?
Eu acredito que para ser um bom dermatologista na área de estética você tem que ter uma sensibilidade muito grande com o ser humano. Muitas vezes nós temos que ter a leitura do que fez o paciente procurar você naquele momento, do que está por trás daquele desejo de melhora estética.
Nós temos que ter a sensibilidade de tentar adequar nossas indicações para a realidade financeira das pessoas para não causar frustração, temos que adotar jeito para apontar as melhorias que precisam ser feitas sem magoar, temos que respeitar a velocidade de cada um. Além disso, o dermatologista tem que ser meio artista, conseguir enxergar a beleza no diferente, no que dá personalidade a cada paciente e não modificar justamente aquilo que faz a pessoa ser quem ela é.
A dermatologia é uma especialidade cirúrgica?
Sim. Existe um braço na dermatologia que é a cirurgia dermatológica, onde são tratadas cirurgicamente patologias na pele, nas unhas e etc.
É verdade que a doença de pele pode se transmitir facilmente?
Via de regra, a maioria das doenças de pele não se transmitem de uma pessoa para outra. São causadas por fatores genéticos e/ou comportamentais. Uma pequena parcela, geralmente as doenças infecciosas, é que eventualmente podem ser transmitidas de uma pessoa para outra.
Na dermatologia, sobretudo na área de estética, vemos muitos procedimentos, muitas pessoas exagerando, outras desinformando. Qual sua opinião sobre esse cenário?
É verdade que o marketing de serviços médicos vem se transformando bastante. Há alguns anos, praticamente não existia e hoje não há como sobreviver fora dele. Entretanto, o que temos visto é que muitos profissionais tomaram o caminho da picaretagem e da venda a qualquer custo, sem interesse real da melhora do seu paciente, além de “influenciadores” dando sua “opinião” em áreas nas quais eles não têm autoridade alguma para falar.
E sobre o excesso de marketing nesse processo visando apenas na venda de serviços e não pensando na qualidade e na própria saúde?
Felizmente, as pessoas estão procurando mais informação e buscando priorizar a segurança e os resultados naturais com profissionais que sigam as bases científicas. Eu acredito fortemente que os “falsos experts” e os picaretas não vão conseguir manter suas empresas por muito tempo no mercado, que é o que estamos presenciando todos os dias nos noticiários: maus profissionais sendo desmascarados e presos e clínicas irregulares sendo fechadas após denúncias da população.
O Câncer de pele tem cura? Quais são as medidas terapêuticas?
A maioria dos cânceres de pele são curáveis com tratamento cirúrgico e também podem ser evitados com proteção solar adequada. O tipo mais agressivo, o melanoma maligno, pode ser incurável se diagnosticado muito tardiamente, mas nos últimos anos grandes avanços nos seu tratamento tem ampliado as possibilidades de sucesso no combate à doença.
Qual seu time do coração?
Sport Clube do Recife.
Qual seu restaurante preferido no Recife?
Bargaço.
Qual o lugar mais bonito onde já esteve?
Fernando de Noronha.
Qual seu cantor e cantora predileto?
Norah Jones.
Música inesquecível?
Trem bala.
Melhor filme que assistiu?
O poderoso chefão.
Qual seu hobby preferido?
Andar a cavalo.