A capital brasileira construída sobre uma falha geológica

Salvador, capital da Bahia e primeira capital do Brasil, foi fundada em 1549 e carrega uma história cheia de beleza e singularidade. Mas o que muita gente não sabe é que a cidade foi construída em cima de uma enorme falha geológica, chamada Falha de Salvador. Essa formação natural influenciou a paisagem, o crescimento da cidade e até a forma como as pessoas vivem lá até hoje.

Essa falha, com milhões de anos, foi responsável pela separação entre a Cidade Alta e a Cidade Baixa, algo que ainda marca fortemente o jeito da cidade ser.

Uma formação natural gigante

A Falha de Salvador surgiu há cerca de 145 milhões de anos, no período em que os continentes começaram a se separar, formando o Oceano Atlântico Sul. Esse movimento do solo criou uma enorme diferença de altura entre duas partes da cidade, que chega a 85 metros.

Essa estrutura natural também ajudou a formar a Baía de Todos os Santos e a Bacia do Recôncavo Baiano, que são parte importante da geografia da região.

Por que a cidade nasceu ali?

A escolha do local para fundar Salvador não foi por acaso. A parte alta oferecia boa proteção contra ataques, então foi escolhida para abrigar os centros político e religioso, além das casas das famílias mais ricas. Já a parte baixa, mais próxima do mar, foi usada para o comércio e atividades do porto.

Com isso, a própria geografia ajudou a dividir Salvador em dois mundos: o de quem mandava e o de quem trabalhava. Essa separação, criada pela natureza, influenciou toda a organização da cidade desde o início.

Como as duas partes da cidade foram ligadas?

No começo, a ligação entre a parte alta e a parte baixa era feita por ladeiras bastante íngremes. Com o tempo, surgiram soluções criativas, como guindastes manuais para subir e descer mercadorias.

Mas o grande avanço veio com a criação de elevadores. O mais famoso é o Elevador Lacerda, inaugurado em 1873, que virou símbolo da cidade. Outros equipamentos, como os Planos Inclinados do Pilar e Gonçalves, também foram importantes para facilitar a circulação das pessoas.

Como a falha ainda influencia Salvador?

Até hoje, essa diferença de altura impacta a cidade. Muitas avenidas foram construídas em vales, o que favorece alagamentos em dias de chuva. Deslizamentos de terra também são riscos em encostas mais íngremes, especialmente em bairros com moradias mais simples.

A Defesa Civil de Salvador (Codesal) monitora essas áreas para evitar tragédias. E o planejamento urbano ainda precisa lidar com os limites impostos pela geografia.

Uma divisão que virou parte da cultura

A separação entre Cidade Alta e Cidade Baixa virou parte da identidade de Salvador. Escritores como Jorge Amado mostraram isso em seus livros, como “Capitães da Areia”, usando a cidade para retratar desigualdades sociais.

O Elevador Lacerda, além de transporte, virou cartão-postal da cidade. E o Centro Histórico, que se encaixa na paisagem formada pela falha, é reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

Salvador é uma cidade única em beleza, história e cultura. A Falha de Salvador, mesmo sendo uma formação natural de milhões de anos, continua presente no dia a dia, tendo ajudado a definir o passado, o presente e até o futuro da capital baiana.