Tendências de moda para as festas juninas e reinvenção de vestimentas típicas

Entenda de onde vem a tradição das vestimentas típicas das festas de São João e por quais transformações essa herança cultural passou

Publicado em 13/06/2025 às 15:57
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Quando se pensa em moda junina, muitas cores, bastante xadrez e criatividade redobrada são algumas das coisas que costumam vir à tona. Esse imaginário é fundamentado por uma tradição que possui raízes históricas profundas e revelam um processo de transformação cultural que envolve influência europeia, religiosidade e regionalismo brasileiro.

Origem das festas juninas

Originalmente, as festas juninas celebravam os santos populares, especialmente São João e Santo Antônio, dentro de um contexto rural que celebrava o ciclo da colheita.

De acordo com relatos do padre Fernão Cardim, jesuíta do século XVI, essas celebrações foram incorporadas ás aldeias indígenas na época do Brasil Colônia, como uma estratégia para facilitar a catequização. As festas eram dançadas nas aldeias como parte de um processo de ensino religioso.

Os trajes típicos surgem nesse contexto: em meio à cultura, religiosidade e relações de território. Os homens usavam calça, camisa quadriculada, colete e chapéu de palha, remetendo à figura do trabalhador rural europeu e, posteriormente, adaptada ao sertanejo brasileiro. Enquanto isso, as mulheres vestiam saias rodadas, vestidos estampados, laços, rendas e babados.

“A tradição das vestimentas de São João, na verdade, vem de uma mistura de influências”, explica Paulo Medeiros, coordenador de Moda do centro universitário UniFBV Wyden. “Originalmente, ela está ligada ao contexto rural. Por isso essa estética caipira, com o uso do xadrez, do jeans, do chapéu de palha e dos vestidos mais rodados. É uma representação — ainda que romantizada — da vida no campo”, diz.

Tendências da moda junina

Com o passar do tempo, essas vestimentas se tornaram símbolos da cultura popular e foram reinventadas e reinterpretadas todos os anos. “Elas ganharam força como ‘fantasias juninas’, mas também abriram espaço para releituras mais contemporâneas”, afirma Medeiros. “Hoje, a moda para o São João acompanha movimentos mais amplos como sustentabilidade, reaproveitamento de tecidos e uma forte valorização da identidade regional”, destaca.

O especialista explica que elementos com crochê, renda, chita, bordados e aplicações manuais continuam presentes, mas se unem a roupas urbanas e criativas. Camisas jeans são combinadas com saias rodadas e acessórios típicos, como chapéus de palha, lenços e flores.

É possível montar um look com o que já se tem em casa, repensando o uso das peças, customizando com retalhos, e compondo produções que dialogam com o espírito junino sem a necessidade de comprar algo novo”, exemplifica o coordenador.

A vestimenta do São João também é uma oportunidade de autoexpressão. Para Medeiros, “o importante é montar um look que respeite a simbologia da festa, claro, mas que também traga a identidade da pessoa. São João é celebração, é cultura, mas também é um convite à criatividade e ao afeto no ato de vestir. Entre traços históricos e tendências atuais, o que permanece é a essência da festa: um encontro entre tradição e reinvenção, entre o campo e a cidade, entre o passado e o presente — tudo costurado com muita cor, alegria e personalidade”.

A professora do curto de Moda da Wyden, Sabrina Nascimento, explica que a modernização nos looks da festa junina não precisa acabar com as tradições: “As festividades e roupas juninas mexem com a memória afetiva e de pertencimento cultural dos nordestinos. Como a moda acompanha a sociedade e suas transformações, hoje é possível observar mudanças significativas nas roupas tradicionais. Atualmente, temos looks que se adequam à personalidade de cada pessoa, mantendo elementos simbólicos da tradição, mas incorporando tendências contemporâneas, novas modelagens, materiais e interpretações estilísticas".

Para Sabrina, as releituras das vestimentas juninas refletem a criatividade dos criadores locais e a demanda por individualização e representatividade na moda. "O vestuário junino deixa de ser apenas uma reprodução de trajes típicos e passa a ser também um meio de expressão pessoal, refletindo a diversidade de corpos, estilos e identidades presentes na sociedade atual. Contudo, é importante que, mesmo com essas transformações, a essência da tradição não se perca”, conclui.

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