Quiet Beauty: conheça a tendência de beleza que promete resultados 'naturais' e suas implicações na autoestima

Entenda como funciona a tendência que promove uma beleza orgânica e sem esforço, mas que pode envolver certa artificialidade por trás

Publicado em 22/05/2025 às 13:02
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Beleza é um conceito subjetivo, sujeito — e tendencioso — a mutações. As concepções do belo perpassam noções individuais e coletivas, unindo construções sociais e singularidades únicas, de pessoas e culturas. A maneira como ele se manifesta, por intermédio de padrões, também varia de época para época. Sabe aquele batom rosa pink que era tendência nos anos 2000 e hoje é considerado brega? A beleza passa por processos parecidos com os da moda, aliás, essas duas áreas andam de mãos dadas.

No contexto da influência digital, um excelente exemplo de personas que moldam os padrões de beleza, ajudando a redefinir os conceitos de belo e de ultrapassado — ou mesmo, feio — , são as Kardashians. Nos anos 2010, o mundo da moda parou com o Instagram da Kylie Jenner e suas fotos ostentando lábios com botox, corpo curvilíneo graças a cirurgias plásticas e maquiagens chamativas. Surgiram desafios online para obter a tão sonhada boca da Kylie e bombaram as cirurgias plásticas, também incentivada pela exaltação do corpo das panicats, no Brasil.

Agora, as redes sociais da Kylie são diferentes. A ‘bocona’ foi substituída por lábios mais naturais. Os procedimentos estéticos que formavam seu corpo dos sonhos, removidos. As maquiagens bem trabalhadas viraram no makeup makeup — estilo maquiagem minimalista que imita a naturalidade. E o mundo da beleza é mesmo outro. O exagero é brega, a quiet beauty é tendência. A esteticista Ana Campos explica o conceito: “é a busca pela jovialidade, saúde da pele, sem modificar os traços naturais, sem haver modificação da fisionomia”, afirma.

A moda é parecer bonita naturalmente, sem esforço. Mas a verdade é que há uma certa “artificialidade” disfarçada por trás da beleza minimalista. Aquela maquiagem, que parece não estar lá, continua sendo uma maquiagem. Filtros que deixam o rosto e o corpo sem manchas, mesmo sem alterar traços, ainda são filtros. E quanto aos procedimentos estéticos? A nova onda de busca por tratamentos que previnem o envelhecimento pode ser considerada natural?

Reprodução/ iStock
Imagem ilustrativa de uma mulher com pele bonita! - Reprodução/ iStock

Beleza minimalista, procedimentos estéticos e redes sociais

Uma pesquisa realizada pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps), revelou que o Brasil é o segundo país que mais realiza procedimentos estéticos no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Uma análise da empresa HSR apontou que 80% das pessoas entre 18 e 25 anos desejam realizar um desses tratamentos.

Ainda, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) mostra que o número de procedimentos feitos em adolescentes de 13 a 18 anos aumentou em 140%. E essa tendência também tem gênero, já que mulheres manifestam o desejo de realizar tratamentos estéticos 40% mais do que homens.

O uso excessivo de mídias sociais frequentemente desencadeia a comparação. O psicólogo Tiago Albuquerque explica que, nesse contexto, as pessoas não se comparam com o corpo real do outro, mas sim com o que é apresentado nas redes, em meio a filtros, edições e narrativas, gerando uma noção distorcida de beleza.

"Muitas pesquisas já vêm sugerindo uma associação entre o comportamento de auto-objetificação nas redes sociais, que seria uma internalização da perspectiva externa sobre o próprio corpo, e o desenvolvimento da insatisfação corporal. Essas manifestações da auto-objetificação no longo prazo incluem ansiedade com a aparência, internalização do ideal de magreza, hipervigilância corporal, vergonha do seu próprio corpo e aumento do risco de comportamentos alimentares sem controle. Quanto mais insatisfeita uma pessoa se sente em relação ao seu corpo, maior o risco de sofrer de baixa autoestima, levando a um possível uso problemático de redes sociais, potencializando as suas insatisfações e deflagrando assim um ciclo vicioso que se retroalimenta", afirma o profissional.

A comparação com rostos e corpos oriundos das mídias digitais não esbarra apenas na esfera da modificação de imagens. Os procedimentos estéticos também estão relacionados com isso. Conforme a tendência atual, o minimalismo é a palavra-chave para esse tipo de tratamento, o que pode torná-los difíceis de perceber. Segundo Ana, eles são mais focados na prevenção dos sinais do envelhecimento, como rugas ou flacidez. Sendo assim, acabam se confundido com o orgânico. Influenciadoras parecem naturalmente mais jovens do que realmente são e suas peles parecem lisinhas e brilhantes sem esforço. Contudo, por trás dessa perfeição “genuína”, há um investimento de tempo e dinheiro muitas vezes excludente. Apesar disso, tem quem evite revelar que realizou um procedimento.

“Enquanto temos por um lado uma exacerbada exposição em redes sociais, o que de certa forma deturpa a realidade e induz também a uma busca pela perfeição estética, que sabemos ser inexistente, existe sim e cada vez mais crescente, um perfil de pessoas que não querem se expor”, afirma a esteticista. Para ela, algumas mulheres evitam revelar os tratamentos por buscarem uma via contrária à ultraexposição, enquanto outras guardam segredo por tabu.

Procedimentos mais procurados

Foto: Freepik
Modelo posa mostrando pele bem cuidada. - Foto: Freepik

Ana Campos observa algumas tendências no campo da estética da beleza silenciosa: “A busca por bioestimuladores de colágeno, o botox e equipamentos como Ultrasom micro focado e o Lavien. A Biotecnologia em dermocosmésticos, com exossomos e PDRN, que proporcionam regeneração de maneira minimamente invasiva, através do microagulhamento, por exemplo”.

“Outro sucesso atual é o peeling coreano, ou o lha la peel, que entrega renovação sem descamação, e a tão desejada pele de vidro. Até os peelings mais agressivos estão sendo substituídos por técnicas que promovam a renovação celular, sem agredir tanto a pele”, explica a esteticista.

De onde vem o desejo de se encaixar?

Os padrões de beleza são mais complexos do que o estabelecimento de modelos de corpos. Há uma questão subjetiva por trás deles, que influencia a forma como os indivíduos se enxergam, bem como suas decisões. Tiago esclarece que a vontade de se encaixar em um padrão também faz parte de um desejo por pertencimento social: "é uma busca por um alívio do sentimento de inadequação e da sensação de parecer que está sempre faltando algo, é uma tentativa de regulação emocional".

O psicólogo observa uma correlação entre transtornos como ansiedade e baixa autoestima por causa da estética: "O estado de hipervigilância, a busca nunca saciada para alcançar um padrão estético, a sensação de estar sempre inadequada socialmente e um empobrecimento de autoconsciência e autoconhecimento, podem levar a pessoa a um espiral negativo de insatisfação consigo mesma e, diante desse cenário distorcido, ela pode catastrofizar transpondo aquele descontentamento para todas as áreas da sua vida, como se ela não fosse capaz, merecedora ou suficiente".

Procedimentos estéticos não devem ser demonizados. A busca por eles pode ser uma forma legítima de autocuidado. A problematização está nas razões por trás da decisão de realizá-los. "A questão aqui é: se somos produtos do meio, estamos diariamente sendo influenciados e atravessados por todas essas pressões sociais e sabendo que a maioria das decisões que tomamos não nasce do plano consciente, como saber a minha real motivação para realizar aquele procedimento estético? Onde fica a linha tênue que divide o meu desejo natural, da pressão estética externa? Será mesmo possível apontar para uma decisão como algo exclusivamente vindo de um desejo natural próprio?", questiona Tiago.

Para Ana, as clientes que buscam o tipo de procedimento relacionado à tendência da beleza silenciosa estão bem consigo mesmas: “são pessoas que não buscam uma boca, nariz ou malar igual a esse ou aquele influencer do Instagram. Buscam estar melhor sim, mas não perder sua identidade”.

E então, como lidar melhor com a autoimagem e as mudanças constantes do padrão de beleza?

Reprodução/Freepik
Retrato de uma mulher mais velha feliz e sorridente com pele bem cuidada - Reprodução/Freepik

Para Tiago, a psicoterapia pode ser um dos melhores caminhos para indivíduos com problemas de autoestima. Ele explica que, no processo terapêutico, se aprende a compreender que padrões de beleza sempre irão existir, que as pressões sociais são reais, mas que, com o autoconhecimento, é possível desenvolver estratégias para lidar com isso.

Ana ressalta a importância da ética do esteticista nesse processo, especialmente em mostrar para cada paciente que o belo é ser saudável: "devemos empoderar e fortalecer a auto estima de quem nos procura". Conforme ela exalta, todas as belezas são únicas em essência, independente do momento ou idade.

“O conteúdo deste site é destinado a fins informativos e educacionais, e não se destina a fornecer aconselhamento médico, dermatológico, nutricional ou de qualquer outra natureza. As informações aqui apresentadas não devem ser utilizadas para diagnosticar ou tratar qualquer problema de saúde. Recomendamos que você consulte um profissional de saúde qualificado para obter um diagnóstico preciso e um plano de tratamento individualizado.”

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